Não Ignores o Assédio!
Neste S. Valentim construímos algo para incomodar os aveirenses. Algo para sensibilizar para o Assédio Sexual, um problema muitas das vezes ignorado e normalizado na nossa sociedade.
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© Helder Berenguer
Neste dia de S. Valentim, como em todos os outros dias do ano, os piropos andavam no ar. Pode parecer algo normal ou inofensivo mas, na realidade, é algo que afeta diariamente muitas pessoas, particularmente as mulheres. Os piropos são das formas mais comuns de assédio sexual.
Segundo um estudo internacional da IPSOS, realizado em 2021 e que contou com mais de 14 000 participantes de 15 países, 80% das mulheres questionadas já sofreu assédio sexual em espaços públicos. Mas o que é o assédio? A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima classifica-o como todo o comportamento indesejado, de caráter sexual ou moral, manifestado sob forma verbal, não verbal ou física, com o propósito de perturbar ou constranger a vítima, criando um ambiente intimidativo, hostil e humilhante.
De mangas arregaçadas e com o objetivo de sensibilizar para este problema, a Agora Aveiro saiu à rua com mais uma ação de guerrilha. Quantas vezes nos deparamos com passeios cortados por causa de obras, quantas vezes temos que nos desviar por causa de vedações e barreiras que nos impedem a passagem? Mas, se isto nos incomoda e atrapalha, imagina passares a vida a ouvir piropos, a te sentires desconfortável ou até ameaçado nas ruas da tua própria cidade. “Tanta carne boa e eu em jejum”, “Ó fêvera, junta-te aqui à brasa” - os piropos podem parecer inofensivos, uma piada que não faz mal a ninguém, mas na verdade não o são. Estes comentários, para além do desconforto, criam medo nas suas vítimas, um ambiente de intimidação e hostilidade. Estes comportamentos não devem ser normalizados e aceites, devem ser combatidos. Assim, deixámos um conjunto de conselhos criados pela “Hollaback”, uma ONG com trabalho desenvolvido na temática do assédio. Conselhos sobre como agir quando presenciamos uma situação de assédio. Desde criar uma distração para o assediador, perguntando as horas, fingir conhecer a pessoa que está a ser vítima de assédio, colocando-se entre a vítima e quem a está a assediar, ou até mesmo, intervir, chamando quem está a assediar à atenção para os seus atos.
Para além desta intervenção de rua, os nossos voluntários estiveram a distribuir cartas de amor um tanto ou quanto diferentes - cartas com “Conselhos para Travar o Assédio Sexual”. Muitas vezes estes conselhos colocam a responsabilidade na própria vítima - “Não andes sozinha na rua”, “Evita usar esse tipo de roupa” - como se coubesse à vítima evitar ser assediada. Os nossos conselhos, pelo contrário, estavam focados não na vítima, mas sim no assediador: “Sempre que te apetecer mandar um piropo, tapa a boca”, “Se estiveres num elevador e uma mulher entrar, não a assedies, olha para o espelho e faz caretas”.
Segundo o mesmo estudo da IPSOS, 73% das pessoas já presenciaram situações de assédio sexual em espaço públicos. Todos devemos fazer parte da mudança e combater este problema. Não utilizes linguagem que objetifique as mulheres, não normalizes os piropos como sendo piadas inofensivas. Se presenciares alguma situação de assédio, não sejas indiferente, apoia a vítima e sê parte da solução.
O “Valentino” faz parte do projeto “Poesia de Andaime” da Agora Aveiro. Contou com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro e do Instituto Português do Desporto e Juventude I.P.
Joel Cardoso