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Mulheres de Abril: Histórias da Revolução

Movidos pela emoção que ronda o aniversário dos 50 anos do 25 de abril de 1974, os voluntários da Agora Aveiro entrevistaram onze senhoras com ligação à cidade de Aveiro, deixando-se comover pelos relatos das suas vivências, antes e após a Revolução dos Cravos.

Tempo estimado de leitura: 4 minutos e 5 segundos

© Helder Berenguer

Antes do 25 de abril de 1974, Portugal era palco de escassas oportunidades, fraca alfabetização, cuidados de saúde insuficientes e muita pobreza, onde as famílias enfrentavam grandes sacrifícios. Tal como recorda Maria Luísa, “(...) Como a minha mãe tinha cinco filhos, cada um ia para uma fila e apanhava 1 kg de batatas, pão ou arroz". 

O nosso país era atormentado por desigualdades sociais profundas, onde ser mulher se traduzia na ocupação de posições inferiores e na redução do seu papel a mãe e dona de casa. Também a imposição de normas socialmente construídas perpetuavam a subserviência e limitavam as oportunidades. “Para viajar ou ter conta bancária, as mulheres precisavam da autorização dos maridos. O casamento importava em várias profissões, por exemplo, uma professora não podia casar com uma pessoa de posição social inferior”, conta Eugénia Pinheiro. A procura por uma vida melhor fez também com que muitos portugueses decidissem fazer as malas e emigrar, como foi o caso da família de Maria dos Anjos Silva que foi para Moçambique e de Filomena Machado, que rumou a Angola.

O regime ditatorial do Estado Novo manteve uma sociedade patriarcal onde as vozes de oposição eram silenciadas e os seus direitos civis eram escassos. Como constata Maria da Conceição da Rocha, "Se algum dia eu tivesse dito algo negativo sobre o regime... Imagine só o que seria de mim". Fernanda Lucas sabia que havia muita informação que era censurada pelo Lápis Azul, “(...) as pessoas não diziam o que queriam”. Conta como as revistas tinham mais público porque por trás de artigos mais leves, se encontrava informação camuflada, algumas pessoas percebiam, outras talvez não, ”Nós líamos os jornais mas já sabíamos que não diziam a verdade”. A Revolução dos Cravos não só derrubou o regime autoritário, como abriu caminho para a liberdade e a igualdade de género. Maria da Conceição Simões expressa um profundo apreço pelas portas que se abriram desde então, desejando que a democracia e a liberdade sejam preservadas e que um retorno a um regime autoritário nunca mais aconteça.

Após o 25 de Abril foram concedidos às mulheres direitos básicos, como o direito de votar e de poder exercer a profissão desejada sem enfrentar discriminação de género. Maria do Carmo recorda com euforia a primeira vez que foi votar “(...) estive numa fila de 2 horas, mas eu tinha que votar, nem que fosse para pôr a cruz onde me apetecesse”. Hoje, temos consciência que os tempos ditam as vontades e a falta de oportunidades condiciona o futuro, por isso Maria Manuela deixa-nos o recado “Não tenham medo e façam mesmo aquilo que gostam, porque ganhamos sempre com os desafios, não é?

A liberdade tão unicamente conquistada pelos Capitães de Abril ao vigésimo quinto dia de abril, deve ser reforçada e cuidada todos os dias, e como Rosa Gadanho nos relembra, “As jovens mulheres têm hoje algumas oportunidades que foram criadas ao longo destas últimas décadas, mas ainda há muito caminho a percorrer (…) continuem! Não se deixem convencer com estas ilusões de que temos tudo na mão, sabemos para onde queremos ir, sabemos exatamente qual é o caminho”.

Mas, tal como Zita Leal, concluiu tão bela e simplesmente, “Valeu muito a pena o 25 de abril. Sejam mulheres a 100%, não se deixem subjugar a nada, não deixem que alguém vos subestime só porque são mulheres.

Com o projeto “Histórias Cravadas” demos a conhecer a perspetiva das senhoras que deram voz a este projeto e a ler as suas histórias. Construímos uma exposição no Museu de Santa Joana em Aveiro, onde é possível encontrar os seus retratos e testemunhos, disponível para visita até ao dia 8 de maio.

Que o legado destas mulheres nos inspire a nunca desvalorizar a nossa liberdade. Viva o 25 de abril! 

O “Histórias Cravadas” é organizado no âmbito do projeto “Refresca a tua Mente” da Agora Aveiro. Conta com o Plate - Estúdio Fotográfico, a Moldura Minuto e a Floricolor como Golden Partners e com a Antiqualha, a Caetano Auto e a Associação Académica da Universidade de Aveiro como Silver Partners. É realizado em parceria com o Museu de Aveiro, a Florinhas do Vouga, a Paróquia da Vera Cruz e a Escola Profissional de Aveiro. Tem ainda o apoio do Município de Aveiro e do IPDJ - Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P..

Mariana Almeida