A fotografia vai além da simples captura de uma imagem; é uma forma de contar histórias e uma ponte que liga pessoas de diferentes culturas, permitindo-lhes partilhar as suas vivências de forma autêntica e cativante. Foi neste contexto que surgiu o projeto Capturing Voices: Empowering Youth Through Photography and Social Inclusion, na região de Casapesenna, uma pequena comuna italiana marcada por estigmas associados ao crime organizado. 

De 16 a 23 de setembro, jovens de Portugal, Roménia, Grécia e Itália reuniram-se para explorar o poder da fotografia na promoção da inclusão social, unidos pelo objetivo de capturar a realidade da comunidade através da lente da câmara. Este espaço permitiu que as vozes locais fossem ouvidas e respeitadas, promovendo uma nova narrativa.

Em locais outrora controlados pela máfia, agora convertidos em museus, restaurantes e casas de acolhimento para voluntários internacionais, o projeto mostrou que algo tão simples como uma foto pode narrar histórias de revolução e sofrimento, mas, acima de tudo, de esperança e união.

Durante a semana, cada participante explorou Casapesenna, fotografando detalhes aparentemente banais que despertaram a sua atenção e curiosidade. Essas fotografias, capturadas e editadas pelos voluntários, foram reunidas numa exposição final, organizada por eles mesmos, onde os habitantes locais puderam ver a sua aldeia através dos olhos de "estranhos". Esse novo olhar destacou a beleza muitas vezes despercebida e desafiou os preconceitos persistentes, resultantes do passado marcado pela máfia. Houve ainda a oportunidade de aprender sobre a história da região, visitando o Museu Don Diana, que homenageia as vítimas do crime organizado e destaca a coragem da comunidade em resistir à opressão. 

O lema “Da vicino nessuno è normale” - “De perto, ninguém é normal” - encapsula perfeitamente a missão do restaurante NCO (Nuova Cucina Organizzata), que providenciou as refeições ao longo da semana. Mais do que um simples restaurante, o NCO é um espaço que acolhe e oferece emprego a pessoas com dificuldades psicológicas. Aqui, estas pessoas encontram não apenas uma oportunidade de emprego, mas também um verdadeiro lar, onde podem reintegrar-se na comunidade de Casapesenna. 

Por fim, seguem-se os testemunhos de 3 participantes portuguesas:

Testemunho de Beatriz Amado 

“Foi a minha primeira vez a participar num projeto deste tipo, nunca tinha tido a coragem de sair da minha zona de conforto, mas não podia estar mais grata do que o fiz. Nada teria sido possível sem a equipa da Agora Aveiro, que me fez sentir segura e confortável do início ao fim, proporcionando-me esta experiência tão enriquecedora. Esta vivência ensinou-me que é possível encontrar beleza em tudo, só se tem de prestar muita atenção. Vou ter um espacinho no meu coração para sempre reservado à comunidade de Casapesenna, que é a prova viva de que se pode mudar o próprio destino.” 

Testemunho de Beatriz Lopes 

“Já tinha feito parte de um projeto de erasmus similar a este, porém esta foi a minha primeira vez a ser team-leader de um, e que boa experiência que tive. Pude visitar Casapesenna numa visita preparatória e imediatamente conectar-me à sua história. Quando participei no projeto em si com o resto da equipa portuguesa senti um dever de passar o amor que sentia pelo local e o projeto ao resto da equipa, mas rapidamente percebi que foi algo que aconteceu naturalmente. 

Desde workshops de edição de fotografias que me permitiram melhorar os meus skills, a noites interculturais a jogar bilhar e matraquilhos, a uma gatinha que nos fez companhia a semana toda, as memórias que levo comigo deste Youth Exchange são inumeráveis.”

Testemunho de Gabriela Ribeirete

“Este projeto para mim foi desafiante desde o primeiro dia, quando decidi arriscar e sair da minha zona de conforto, mas ainda bem que o fiz. Eu sempre quis aprender mais acerca de fotografia e pareceu-me a oportunidade ideal, agora digo com certeza que foi das melhores experiências que tive na vida. Através deste projeto conheci uma comunidade pequena, que por um lado se assemelha a todas as outras no seu quotidiano, mas que carrega também o fardo de um passado recente marcado pela máfia, revelando algumas marcas desta nos dias de hoje. Para mim, o mais desafiante foi tentar entrar no mundo destas pessoas com o fim de eternizar um simples momento ou paisagem que fizesse sentido aos olhos deles e face à sua história. Além disso, a interação com pessoas de outros países permitiu-me conhecer diferentes perspetivas acerca da fotografia. No entanto, aqueles que mais guardarei na memória serão as pessoas da vila que fazem da inclusão social o seu mote de vida, “Da vicino nessuno è normale”.”

O “CAPTURING VOICES: Empowering Youth Through Photography and Social Inclusion” é organizado pela Giosef em colaboração com a Agora Aveiro. Este projeto é apoiado pelo Programa Erasmus+ da Comissão Europeia através da Ação-Chave 1: Mobilidade Individual.