YALA: Um projeto SVE em Aveiro
Está um dia solarengo em Aveiro e pelas ruas caminham vários turistas. Sentadas à mesa do café estão quatro jovens que parecem fazer uma pausa num fim-de-semana à descoberta duma nova cidade, à imagem daqueles que freneticamente procuram capturar sob o seu olhar os recantos da cidade.
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A naturalidade com que pedem um galão, num português aprumado e o riso fácil para o empregado, traem-nas. É que, nos últimos meses, Jasna Vejić, Tea Vukicevic, Tatjana Vaselova e Wiola Starczewska, têm vivido em Aveiro como voluntárias num projeto associado ao Serviço Voluntário Europeu e acolhidas pela Agora Aveiro.
Nataša Golosin, sérvia de nascença e cidadã portuguesa é Gestora de Projetos na Agora Aveiro e coordenadora do projeto YALA (Your Active Life in Aveiro). “O SVE é um programa financiado pela Comissão Europeia no qual qualquer jovem (com idade compreendida entre os 18 e os 30 anos) pode ter uma experiência de voluntariado no estrangeiro em várias instituições” afirma Nataša. Considerada por muitos como uma vivência única, o SVE permite, segundo Nataša, “obter experiência, melhorar as capacidades linguísticas e sociais, aprender com colegas e estabelecer novas amizades”. Existem duas modalidades base, a de curta duração de 2 semanas e 2 meses, e a de longa duração de 2 a 12 meses, podendo haver apenas uma candidatura para cada modalidade.
As nossas entrevistadas encontram-se em Portugal há 5 meses. Durante este tempo as 4 raparigas envolveram-se em inúmeras atividades, tendo dificuldades em escolher a que mais gostaram. Para além de terem organizado algumas ações de “guerrilha” pelas quais a Agora Aveiro é famosa – locais de abraços e beijos espalhados um pouco por toda a cidade, deram uso à roupa que não usavam entregando-a aos mais necessitados e organizaram a primeira “Biblioteca Viva” em Aveiro onde, em vez de livros, os leitores lêem outras pessoas, ouvindo as suas histórias de vida. Ajudaram, também, no TEDxAveiro, criaram um novo website para a associação e organizaram um grande intercâmbio jovem, com 35 participantes de 7 países diferentes, o WAVE2, em São Jacinto.
Todas concordam que a candidatura foi fácil. Para Jasna, 26 anos e oriunda da Croácia, a parte mais difícil da candidatura foi a decisão de realizar ou não o SVE. Com um mestrado em sociologia e algum trabalho desenvolvido na área do apoio social, Jasna nunca tinha vivido no estrangeiro, mas achou o SVE uma boa hipótese para ganhar experiência profissional. Segundo Jasna, quando inquirida acerca da cidade e das suas expectativas, a resposta foi: “As pessoas que conheci aqui aceitaram-me e fizeram o seu melhor para me fazerem sentir como se fizesse parte desta cidade charmosa, com boa ambiência e na qual quero passar mais tempo no futuro.”
Já para Tea, 24 anos e licenciada em economia, a cidade não era nada de novo. Isto porque realizou o seu ano de Erasmus em Aveiro e decidiu voltar. Segundo esta “o significado do SVE vai-se aprendendo ao longo do caminho, enquanto se realiza.” Para esta croata as suas expectativas foram completamente cumpridas.
Mas talvez seja Wiola, blogger polaca com um mestrado em ciências políticas e uma especialização nos Média, a que melhor poderá avaliar a vida no estrangeiro. Após estudar e trabalhar na Dinamarca, viveu em Londres, Bruxelas, Brasil e Grécia antes de chegar a Aveiro. Sobre o seu contacto com outras culturas tem a enaltecer o espírito anímico brasileiro e a qualidade de vida dinamarquesa. Incrivelmente, para Wiola, 27 anos, Portugal tem quase a mesma qualidade de vida que a Dinamarca. Relativamente à cidade, Wiola concorda com Jasna: “É perfeita para se realizar um SVE! Estou muito feliz por não estar em Lisboa porque, como agora o demonstraste, bastou-te telefonares-me para eu descer e estarmos aqui a tomar café. Nas cidades mais pequenas há mais oportunidades de integração na sociedade e isso favorece o meu objetivo para o SVE, que era continuar a aprender português.” Wiola prossegue “O que nos juntou na partilha foi a Agora Aveiro”.
Nataša explica-nos como, anualmente, a associação recebe 3 a 4 voluntários e envia jovens aveirenses para o estrangeiro. Diz ainda que “tem sido incrível vê-los chegar confusos e um pouco assustados mas, após 6 ou 7 meses, não quererem voltar para casa. Também tem sido estupendo receber cartas e fotos de jovens portugueses que estão a viver em aldeias remotas na Hungria ou Eslovénia, no meio de nada na Islândia ou em cidades vibrantes como em Zagreb, dizendo que têm aprendido imenso e apenas lamentando não poderem ter esta experiência mais do que uma vez.” As voluntárias concordam que esta é uma oportunidade imperdível deixando algumas recomendações a futuros candidatos. “Deviam fazer o SVE enquanto são novos, antes dos 25. Na universidade não aprendemos certas competências inerentes ao SVE como viver no estrangeiro independentemente ou interagir com pessoas de diferentes culturas. Dá-nos algo que as escolas não conseguem ensinar. “
Já quanto a Tatjana, 27 anos e proveniente da Letónia, “Não há um único guião para o SVE; basta mergulhar e ver o que acontece. Sê ativo, procura fazer todo o possível para que o teu SVE seja a melhor experiência possível. A maior parte das coisas depende unicamente de ti e da tua atitude. Faz amigos, diverte-te, viaja, mantém a mente aberta, experimenta algo novo.” Tatjana aproveitou ainda o TEDxAveiro, o qual a Agora Aveiro organiza, para se desenvolver profissionalmente na sua área profissional, as artes de comunicação audiovisuais, acabando este por fazer parte da sua tese de mestrado.
O Sol está perto do seu ocaso e é altura de partir. Também este projeto, perto de completar os 7 meses, se encontra perto do seu fim. Despedimo-nos todos amigavelmente, esperando ansiosamente pelo próximo encontro; quem saberá aonde.
Francisco Santos