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Quebrar o Ciclo, um Retrato da Violência Doméstica

No passado Sábado, o “Quebrar o Ciclo” promoveu a reflexão na cidade de Aveiro com uma “photobooth” sobre a violência doméstica. A instalação aconteceu no Forum Aveiro e contou com mais de 120 participantes.

Tempo estimado de leitura: 2 minutos e 57 segundos

© Rúben Arede

Quem passou pelo Forum Aveiro no passado sábado deparou-se com uma estrutura invulgar: uma espécie de cabine de madeira, semelhante a uma cabine fotográfica, com cortinas fechadas e uma mensagem simples à entrada: “Photobooth Grátis”. Lá dentro, os visitantes eram convidados a tirar quatro fotografias de forma totalmente gratuita. Quando recebiam as fotografias impressas, algo era revelado: uma das quatro fotos tinha o rosto da mulher riscado. Por baixo, lia-se:

“Segundo a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vitima), 1 em 4 mulheres já sofreu de violência física ou sexual durante a sua vida.”

Uma experiência imersiva sobre a violência doméstica” descrevia o flyer entregue juntamente com a fotografia e partilhado por muitas das pessoas que participaram ao longo da tarde. Esta não era uma photobooth comum, era um espelho íntimo para o silêncio, a dor e a urgência de ver o que tantos ignoram, a violência doméstica.

O projeto “Quebrar o Ciclo” nasceu por iniciativa de um grupo informal de jovens, a “Vizinhança” que, em colaboração com a Agora Aveiro, e graças ao apoio do programa “Namorar com Fair Play” do Instituto Português da Juventude, quis alertar para a dimensão do problema da violência doméstica em Portugal. Com esta instalação procurou-se sensibilizar para a urgência de identificar sinais de violência doméstica, muitas vezes silenciosa e invisível, e inspirar uma cultura de denúncia, empatia e ação.

Durante o evento, mais de 120 pessoas participaram na experiência, recebendo um conjunto de fotografias e um flyer de sensibilização com dados e recursos úteis. A intervenção foi pensada para ser, simultaneamente, íntima e pública - uma conversa silenciosa entre quem entra e quem observa, de fora.

O encerramento da iniciativa contou com uma intervenção de João Tinoco, cantor e compositor do tema “O Ciclo”, que inspirou a criação da instalação. A sua abordagem abordou o tema da violência doméstica através da arte, estabelecendo uma ligação profunda com todas as pessoas que participaram. 

A Realidade por Detrás das Estatísticas

Segundo uma notícia recente do semanário Expresso, quase 700 pessoas foram assassinadas em contexto de violência doméstica em Portugal nos últimos 25 anos. Só em 2024, 22 pessoas perderam a vida e foram registradas mais de 30 mil denúncias, números que revelam a persistência e gravidade do problema. A grande maioria das vítimas são mulheres, mas as agressões ultrapassam o espaço doméstico: ocorrem também em relações de namoro, no seio familiar e até em espaços públicos, atingindo mulheres e homens, jovens e idosos.

“Quebrar o Ciclo” foi mais do que uma instalação, foi um espelho que deu rosto às vítimas e transformou dados crus em empatia. Mostrou que a arte pode ser uma arma contra o silêncio, despertando a consciência e a ação. Porque enquanto houver quem sofra em silêncio, estas campanhas terão sempre voz.

O projeto “Quebrar o Ciclo” foi organizado pela Agora Aveiro em colaboração com a Vizinhança. Teve como Main Partner o Forum Aveiro e contou com o apoio do Município de Aveiro e do Instituto Português do Desporto e Juventude I.P. através do programa “Namorar com Fair Play”.

Ricardo Bento