Vozes Ousadas, Histórias (para sempre) Cravadas
Era uma vez um cravo, de intensa cor vermelha, que deixou de ser apenas flor e se tornou num símbolo de liberdade e mudança. 50 anos volvidos, é usado na lapela ou na mão, como arma de resistência e esperança, e como sinal que Abril não foi em vão.
Tempo estimado de leitura: 4 minutos e 25 segundos
© Helder Berenguer
Desde cedo que somos chamados a responder a desafios e a nossa bússola moral é colocada à prova; pequenas ações e palavras ditam aquilo de que somos feitos. Crescemos e quando damos por nós, somos jovens adultos de crenças e ideais definidos, e algures no tempo, ganhamos a perceção do que nos rodeia e das causas que fazem erguer o nosso punho e o coração bater mais forte.
Digo, com toda a certeza, que o 25 de abril é o feriado mais bonito da nossa história. Talvez seja porque cresci numa casa onde se falava de liberdade, enquanto o gira discos tocava Zeca Afonso, Sérgio Godinho ou José Mário Branco. Cresci com as fotografias de infância do meu pai em África e as memórias do meu avô no seu regresso após a Guerra do Ultramar. Recordo as histórias de juventude da minha mãe nos seus tempos de liceu logo após o 25 de abril, que me relatava o espírito de mudança e o sentimento de esperança renovada que se vivia.
Para mim, Abril sempre foi sinónimo de quanto a liberdade é bonita e merecedora de ser preservada. Mas também que a democracia é frágil e que hoje está sujeita a novas ameaças, e por isso sei que a minha geração não se pode sentar à sombra daquilo que foi conquistado pelos Homens e Mulheres que vieram antes de nós. Foi-nos confiado o importante papel de permanecermos inquietos, de resistir às adversidades e vozes intolerantes, de erguer o punho e lutar pelo direito à escolha, a sermos donos do nosso corpo, das nossas verdades e vontades, de perseguir sonhos e uma vida melhor.
Lançamento do Livro “Histórias Cravadas”
O projeto “Histórias Cravadas” surgiu como celebração da vida de onze senhoras da comunidade aveirense. Eternizámos as dificuldades que encontraram ao longo do seu caminho, mas também a sua superação, as suas conquistas e o papel determinante da Mulher na construção da democracia em Portugal. No passado dia 6 de abril, no espaço Fórum da FNAC Aveiro, encerrámos este projeto de uma forma muito especial e emotiva. Fizemos o lançamento do livro "Histórias Cravadas - As Conquistas das Mulheres no pós-25 de Abril”, que reúne os testemunhos e histórias destas incríveis senhoras. A conversa foi moderada pelo Professor do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, Fernando Nogueira, e contou com a participação de três das senhoras do nosso livro: Eugénia Pinheiro, Maria do Carmo e Rosa Gadanho. Como forma de agradecimento entregámos uma moldura e um exemplar do livro a cada uma das onze senhoras do “Histórias Cravadas”.
Um Ano de Celebração
Este foi o culminar de um projeto que começou o ano passado, com as entrevistas às onze senhoras cujos testemunhos viriam dar corpo a este livro, e que ficam também disponíveis para toda a comunidade na página do projeto - agoraaveiro.org/iloveaveiro. Em abril lançámos a curta-metragem que dá voz a este projeto com um belíssimo e animado convívio no largo da Capela de São Gonçalinho, em Aveiro. Este evento marcou também a inauguração da Exposição Fotográfica no Museu de Santa Joana, em Aveiro, que lá ficou até maio. A exposição viria ainda a passar pela Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, durante o mês de setembro do mesmo ano, e pela Biblioteca Municipal de Estarreja, durante o mês de março deste ano. O projeto foi ainda mote para uma Biblioteca Viva, um momento discussão e partilha de histórias, na Escola Profissional de Aveiro.
Quem quiser adquirir um exemplar do livro deverá entrar em contacto connosco através do formulário da página de “Contactos”.
Resta-nos agradecer a todas as senhoras que generosamente aceitaram conversar connosco, Eugénia Pinheiro, Filomena Machado, Fernanda Lucas, Maria da Conceição Correia, Maria da Conceição Simões, Maria da Silva Anjos, Maria do Carmo, Maria Luísa Louro, Manuela Marques, Rosa Gadanho e Zita Leal. Esperamos ter feito justiça às suas histórias e às suas lutas, e garantimos que da nossa parte, “enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar”. Viva o 25 de abril!
Joana Lopes